27.9.10

Mano a Mano

À minha frente como eu estive
perdido, mal achado, de frente
ao tão grande, ao oco de nós.
De eles, deles o oco, nosso o saber
de certas coisas que são só de perder.
Lembro-me nele, sinto-me nele,
os dias medidos por beijos mancados,
os gestos amputados que ainda dançam
pelas mãos e são ânsia certa como noites.
Bebemos juntos por copos desiguais
do mesmo, um irmão, um como eu
 se não fosse eu. Um outro copo e a
mesma dor a apertar o que já não é.
Somos todos tão parecidos neste lugar,
encontrados no nosso desacerto
de querer de querer de querer.
Que porra tão grande que é aqui. 

12.9.10

Sabes da Areia?

Sabes quando percebi que a distância
de mim para ti era recíproca, que era
uma distância que ia e vinha e ia e vinha?
Sabes quando é que eu vi o sol morrer?
O sol, no mar onde morava o que era nosso.
Sabes quando é que eu compreendi
que era pequeno assim, pequeno como um dia.
Sabes quando é que eu te vi mulher, uma
mulher para amar ou não amar ou amar.
Sabes, sabes o que aqui vai? O que aqui dói?
Os metros de tanta coisa, as horas, os reflexos
nossos dourados e laranja de finitos e nossos
sempre, até ao fim, do dia, do sol, do fim.
Sabes de nós? Da praia grande que nos sobrava
e nos enchia os pés de horas e de beijos, a areia
fina que não nos faltava entender. 

Cruzinha

Disseram-me mas eu não acredito
que um tempo era tudo assado,
os homens e as mulheres encontravam-se
faziam ou não faziam amor e depois sorriam.
Os homens, que raio, as mulheres, que raio,
para mais a fazer ou não fazer. Que vagares
e que modos os dessa gente sem propósitos,
sem ambições nem carreiras, dispostos ao tempo
e a sorrir como se o mundo fosse de alegrias.
Eu sei bem que é tudo assim como se vê,
uns e outros e outras com agendas escondidas
nos cus a fazer cruzinhas muito objectivas.
Chefe de duas pilinhas e um telefone, cruzinha
coordenador de tristezas e tempo deitado ao tempo,
cruzinha. CEO da puta que me pariu, cruzinha.
Depois um homem, uma mulher, copos e uma festa
de escritório, o vinho, o Lopes que engraçado,
vives aqui sozinho? Que casa tão grande, também
adoro o Cole Porter, dá-me matulão, ai que doida.
Os cadernitos pretos estão sempre ao fundo da cama,
o primeiro a acordar que o apanhe, é um igual ao outro,
no quadrado branco à frente das letritas: já te fodi,
cruzinha.
 
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