4.7.09

Latência Sonialista ou O Anti-Manifesto de Fim de Festa ou Gere-se Outra Geração

Nós, e eu, e os outros, estamos mortos Senhores, mortos. Fomos paridos nos viveiros das vossas crenças Senhores. Fomos adubados com as vossas ideias iluminadas e nascemos já mortos, Senhores.

Mamámos do comunismo e do anarquismo e do futurismo e do fascismo e do capitalismo e do modernismo e do existencialismo e do pós-modernismo e da puta que vos pariu, Senhores.

Aprendemos a desejar, a ganhar, a comprar, a sofrer, a correr, a trabalhar. Mas não aprendemos mais nada, não sabemos mais nada, não temos memória de nada, Senhores.

Gostaríamos de ter opiniões e de ser inteligentes e pensar o mundo e dizer que não ou talvez, mas nós não sabemos nada e não sabemos saber nada. Somos coisas de querer, não somos de pensar, Senhores.

Compramos o belo feito porque nos disseram que é belo e porque devemos comprá-lo. Nós não fizemos o belo. Nós ainda não fizemos o belo, Senhores.

Não temos vontade porque já nascemos com desejos. Mas nós não desejamos o que desejamos, Senhores.

Nós estamos depois do fim e antes do começar de tudo o que é grande. Nunca nada nos é grande, Senhores.

Não sabemos fazer revoluções e não podemos fazer a guerra porque nós não temos sangue nem corpo. Não temos corpo, Senhores.

Estamos afogados em passados e afogados no futuro. Não soubemos inventar nenhum dos dois e assinámos de cruz um contrato a tempo indeterminado. O nosso único contrato a tempo indeterminado, Senhores.

Nós não sonhamos por nós. Os nossos sonhos são feitos em estúdio e os papéis são-nos dados já escritos. Escritos por vós, Senhores.

Estamos fartos de ser enxames de trabalho, enxames de prazer, enxames de consumo. Queremos o luxo de um nome próprio e uma vida por inventar. Queremos ser livres de uma liberdade que nos foi imposta. Mandar ao ar a ciência e a arte que não procurámos e que não sabemos para que serve. Queremos a tristeza em vez da depressão, a alegria em vez do delírio. Queremos vidas feitas de um tempo e de uma realidade à nossa medida. Queremos um corpo e uma cabeça e um sexo com defeitos e apetites. Queremos levantar o alcatrão e desenhar outros caminhos. Queremos correr estradas que nos levem a um destino todo por descobrir. É isto que queremos, Senhores.

3 comentários:

  1. o texto me tocou. Tenho essa sensação de "estamos perdidos".

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  2. Gostei muito deste texto. Parabéns. João Branco, Cabo Verde

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  3. Perdidos nunca!

    Se nunca lutarmos nunca venceremos mas se lutarmos todos os dias, garanto vos que um dia vamos vencer!!

    a luta faz se na rua.
    no trabalho
    no circulo de amigos
    na família
    nas férias
    no metro
    à noite e de dia
    A luta faz se AGORA
    e não te textos e palavras bonitas....

    Informa te e luta!

    Gostei deste espaço

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